segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Arquitetos da Idade Média: A Maçonaria Operativa


A Grande Loja Unida da Inglaterra reconhece, em seu site oficial, que as perguntas “quando”, “como”, “por que” e “onde” a Maçonaria nasceu ainda são objetos de intensa especulação. Entretanto, aponta um consenso de que a Maçonaria Moderna descende direta ou indiretamente da organização dos pedreiros-livres (freemasons), que construíram as grandes catedrais e castelos da Idade Média. Quem eram estes construtores? De quais privilégios eles gozavam? Qual foi sua contribuição para a civilização?
Sabemos que, durante a Idade Média, o conhecimento foi transmitido oralmente, de mestre para aprendiz, ou, em alguns casos, absorvido pela observação prática. Sobre a formação dos construtores neste período, Maurice Vieux escreve que “de companheiro a aprendiz, de mestre a discípulo, eis a escola técnica na qual os mestres de obra e seus sucessores aprendem o seu ofício, os seus processos” (VIEUX, 1977: p. 117).
Vale ressaltar que as Guildas de Ofício, hierarquizadas entre mestres e aprendizes, desempenharam um importante papel na acumulação e divulgação desse conhecimento. Os textos, acessíveis por traduções em língua vernácula, eram divulgados dentro dessas organizações. Um dos melhores exemplos desses textos são os manuscritos de Villard de Honnecourt. Datando do século XIII, este documento constitui um dos primeiros exemplos de compilação de modelos e exemplos artísticos, com comentários e textos, em língua vulgar, do autor. Apesar de nos chegar hoje incompleto, esse documento extraordinário nos fornece informações preciosas acerca dos freemasons.
A enorme variedade de exemplos coletados por esse célebre construtor francês torna evidente a grande mobilidade dos maçons operativos. Villard percorreu localidades dentro dos atuais territórios da França, da Suíça e da Hungria. Apesar de parecer banal nos dias atuais, viajar livremente entre os feudos era um privilégio raro entre os artesãos da Idade Média.
O especialista em História da Arte Ernst H. Gombrich nos dá algumas pistas da importância dos maçons operativos. Segundo este autor: “somente em algumas velhas aldeias do interior podemos ter ainda um vislumbre de sua importância. A igreja era, com frequência, o único edifício de pedra em toda a redondeza; era a única construção de considerável envergadura muitas léguas em redor e seu campanário era um ponto de referência para todos os que chegavam de longe. Aos domingos e durante o culto, todos os habitantes da cidade podiam encontrar-se ali, e o contraste entre o edifício grandioso, com suas pinturas, suas talhas e esculturas, e as casas primitivas e humildes em que essas pessoas passavam a vida devia ter sido esmagador. Não admira que toda a comunidade estivesse interessada na construção dessas igrejas e se orgulhasse de sua decoração. Mesmo do ponto de vista econômico, a construção de um mosteiro, que levava anos, devia transformar uma cidade inteira. A extração de pedra e seu transporte, a ereção de andaimes adequados, o emprego de artífices itinerantes, que traziam histórias de terras longínquas, tudo isso constituía um acontecimento importante nesses dias remotos.” (GOMBRICH, 1999: p.171).
Devido à importância de seus trabalhos, os construtores medievais ganharam o direito de viajar livremente por toda Europa. Graças a esse atributo, ficaram conhecidos como freemasons que, em português, significa pedreiros-livres. Foi através do esquadro e do compasso dos maçons operativos que a arte da Idade Média sofreu uma revolução artística: o aparecimento do estilo gótico. Gosto particularmente da descrição de Gombrich acerca deste estilo: “as paredes das novas igrejas não eram frias nem assustavam. Eram formadas de vitrais polícromos que refulgiam como rubis e esmeraldas. Os pilares, nervuras e rendilhados despendiam cintilações douradas. Tudo que era pesado, terreno ou trivial fora eliminado. Os fiéis que se entregavam à contemplação de tanta beleza podiam sentir que estavam mais próximos de entender os mistérios de um reino afastado do alcance da matéria.” (GOMBRICH, 1999: p. 189).
Servindo aos reis e à Igreja Católica, nossos predecessores transformavam pedras brutas nas mais belas obras que o intelecto humano foi capaz de imaginar.

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